Eis a mais nova e polêmica teoria de estudiosos: homens e mulheres são naturalmente infiéis, a exemplo dos animais
POLIGAMIA Ninfas oferecem vinho, flores e frutos a Baco: os homens querem espalhar os seus genes |
Está na origem do homem |
Charles Darwin tem uma boa nova para anunciar: trair é um fenômeno natural do comportamento humano. O que você vai ler a seguir é polêmico, mas foi comprovado por um casal de cientistas americanos, que seguem as bases da teoria da seleção sexual do naturalista britânico. Segundo David Barash e Judith Lipton, o homem é tido como um infiel inveterado porque tem muito esperma e precisa de várias parceiras para perpetuar seu DNA. Já a mulher, por ovular pouco, não se priva de sair à caça de “bons genes” em machos mais saudáveis. O fim da monogamia foi anunciado pelos dois em O mito da monogamia (Editora Record, 322 págs,. R$ 42), lançado este mês. “Monogamia é um mito mesmo. A poligamia é um fato e foi tida como ideal por 80% de 1.100 sociedades pesquisadas pelo Ethnografic Atlas”, afirma o psicólogo Aílton Amélio da Silva, da Universidade de São Paulo (USP), citando um catálogo que comporta estudos antropológicos coletados no mundo todo. “Mas os evolucionistas carregam na tinta. Todo o nosso comportamento tem dose genética, cultural mais as idiossincrasias que cada um carrega.”
Barash e Lipton, porém, recorreram a modernas técnicas de análise de DNA para mostrar que o homem trai para fertilizar e a mulher, para fertilizar bem. Fazendo o caminho contrário da evolução das espécies, eles descobriram que há um tipo de zebra que faz sexo com até quatro machos em um mesmo dia, que os gorilas silverclacks exerce um domínio sobre machos mais fracos com o propósito de formar um harém de três a seis fêmeas e que um ninho de pardais e andorinhas pode abrigar filhotes de vários machos. “O comportamento social, hoje, é mais liberal. Agora, dizer que precisamos ter vários parceiros para passar o DNA para os descendentes é exagero”, pontua a geneticista Mayana Zatz, uma das cientistas de maior excelência no País e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP.
Na lógica evolucionista, a monogamia não é instintiva nos humanos, ao contrário da poligamia, que é inata, uma regra e não exceção. Obras como O mito... e Por que homens jogam e mulheres compram sapatos, de Alan S. Miller e Satoshi Kanazawa (Prestígio Editorial, 208 págs., R$ 34,90), lançado em julho, argumentam que a fidelidade sexual é fruto de normas sociais que nos doutrinam a padrões comportamentais contrários à nossa essência primitiva. “Sou cético a achar que a poligamia está ligada à natureza humana, que os homens estão se reproduzindo de maneira desenfreada”, diz o antropólogo Rui Merrieta, da USP.
O psicólogo Aílton Amélio, da USP, cita a teoria do apego para explicar a infidelidade. Para ele, se a criança, quando muito pequena, não confia, não se sente segura e não se entrega totalmente aos cuidados dos pais, ela poderá se tornar um adulto sem apego à companheira. “A multiplicidade de parceiros dá auto-estima, é emocionante, tem seus benefícios”, cita ele. “Mas sou favorável à monogamia, onde se convive em um ambiente de mais honestidade, apoio, companhia, segurança.” Os autores de O mito... também: eles são casados, têm dois filhos e se dizem monogâmicos.
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