quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Doença ataca golfinho do Mediterrâneo após 17 anos

O golfinho listrado, a espécie de cetáceo mais abundante no Mar Mediterrâneo, no verão deste ano voltou a ser atacado pelo mobillivirus que mais caracteristicamente costuma afligir a espécie, 17 anos depois do mais recente episódio registrado na região, de acordo com o professor Juan Antonio Raga, diretor de zoologia do Instituto Cavanilles de Biodiversidade, na Universidade de Valência.

Confirmando as expectativas despertadas com a chegada à costa catalã, em proximidade incomum com as praias, de exemplares desorientados de tubarões e arraias, as pesquisas do professor Raga estão determinando a dimensão real dos problemas que ressurgiram entre os cetáceos de grande porte, com índice de mortalidade na casa dos milhares.

A propagação do vírus está ao que parece seguindo um processo similar ao de 1990, reproduzindo tanto "sua cronologia quanto seu desdobramento geográfico", explicou Álex Aguilar, diretor do grupo de pesquisa de conservação biológica da Universidade de Barcelona.

Tal como aconteceu na crise de 1990, quando Aguilar trabalhou como coordenador do combate à epidemia animal na Espanha, a mortandade começou em Valência, "possivelmente devido à temperatura elevada da água no local". Aguilar explicou como os primeiros exemplares de golfinhos mortos apareceram em Valência no começo de julho, e duas semanas mais tarde na Catalunha, e acrescenta que, a partir da segunda quinzena de julho, o número de mortes disparou em Valência, enquanto na Catalunha o mesmo aconteceu durante a segunda quinzena de agosto.

Essa enfermidade causou número considerável de mortes de golfinhos listrados, em 1991. A epidemia provavelmente atingiu dezenas de milhares de animais - só na Espanha, França e Itália, cientistas examinaram mais de 1,1 mil cadáveres de animais vítimas da doença -, mas muitos dos golfinhos morreram em alto mar e nunca foram analisados, ainda que, passados 10 anos, tenha sido possível constatar que a população da espécie se recuperou. Desde então, o vírus não havia ressurgido, "já que parte das espécies conseguiram se imunizar". Mas uma nova geração, desprovida de imunidade, agora volta a ser golpeada pela enfermidade, se bem que o novo surto tenha causado "número de mortes substancialmente menor" do que há 17 anos.

No final de agosto de 1990, haviam sido recolhidos 52 golfinhos mortos em Valência, e 31 na Catalunha, ante 29 em Valência e quatro na Catalunha, no período, este ano. O que explica a diferença? "Talvez a epidemia seja menos agressiva, ou o número de golfinhos em águas espanholas tenha caído de 1990 para cá", diz Aguilar.

Alertadas pela recuperação de número considerável de cadáveres de golfinhos nas costas de Valência, as autoridades do Conselho do Meio Ambiente da Valência, a Universidade de Valência e o instituto L¿Oceanográfic ativaram um protocolo de emergência para a coleta dos corpos frescos de cetáceos, implementado pela Fundação de Recuperação e Conservação de Animais Marinhos. Preocupada com o aumento no número de animais mortos, a universidade enviou alguns dos cadáveres para análise no Instituto de Saúde Animal do Reino Unido.

Os testes confirmaram a presença do vírus em três golfinhos recolhidos em Oliva, Elx e Alicante. Agora, o objetivo passará a ser tentar controlar a enfermidade e sua expansão, ainda que, de acordo com o professor Aguilar, seja "muito difícil controlar esse vírus, a não ser que consigamos inocular os espécimes com vacinas, um procedimento praticamente impossível de aplicar a espécies selvagens".

http://noticias.terra.com.br/ciencia

Nenhum comentário: