terça-feira, 27 de novembro de 2007


Bióloga é única brasileira em estudo sobre baleias


A bióloga Leandra Gonçalves é a única brasileira a bordo do navio Esperanza, do Greenpeace, que está no Pacífico Sul desenvolvendo o projeto Trilha das Grandes Baleias. A iniciativa busca estudar, por meio de técnicas não-letais de pesquisa, a migração e a estrutura da população de baleias jubartes na região.
Em entrevista por e-mail a Terra Magazine, a cientista, que é coordenadora da campanha de Baleias do Greenpeace Brasil, conta os detalhes dos trabalhos da entidade na região, fala sobre o dia-a-dia no Esperanza e acusa os japoneses de caçar baleias para comercializar a carne do animal. A prática é proibida desde 1986 pela Comissão Internacional da Baleia (IWC, na sigla em inglês).
Navio Esperanza
- O Esperanza é como se fosse a nossa casa por 4 meses. Acordamos às 7h30, tomamos café até às 8h00 e temos até as 9h00 para fazer limpeza do navio. Depois disso, cada um parte para sua tarefa: trabalhar no deck, na navegação, observar baleias, escrever relatórios, cozinhar, cuidar do motor do navio - conta a pesquisadora.
Além de Leandra, há apenas três latinos-americanos (do Chile, Panamá e Argentina) na embarcação. O restante da equipe é composto por profissionais de mais de 20 países, como Japão, Irlanda, Nova Zelândia, Holanda, Suíça, Suécia, Inglaterra, Filipinas, Itália e França, entre outros.
- As funções são inúmeras e, na medida do possível, todos tentam se ajudar. Aqui somos uma família.
Ao todo são 40 pessoas que se dividem entre as pesquisas e diferentes serviços de tripulação. São biólogos, oceanógrafos, engenheiros, pilotos de barco, cozinheiros, mecânicos de botes, pilotos de helicóptero, fotógrafos, jornalistas, designers e voluntários do Greenpeace.
A pesquisadora brasileira conta que a expedição da Trilha das Grandes Baleias tem retorno previsto para meados de fevereiro.
- Mas muitas coisas podem acontecer até lá.
Pesquisas não-letais
Para alcançar os resultados desejados pela pesquisa, o Greenpeace apoiou o trabalho de duas organizações internacionais: a Opération Cétacés e o Center for Cetacean Research and Conservation, que colocaram 19 sensores via satélite nos animais.
- Isso mostra que se pode fazer pesquisa com baleias sem disparar um único harpão - explica Leandra - em referência à caçada "cientifica" (e letal) dos japoneses.
Segundo a pesquisadora, esse tipo de monitoramento pode trazer resultados relevantes em 1 ou 2 meses, e que não poderiam ser alcançados por outra metodologia. O rastreamento acompanha populações de cetáceos pouco conhecidas e traz informações sobre sua rota migratória, o que permite desenvolver estratégias de manejo e conservação.
- Os sensores são implantados no dorso das baleias, próximos à nadadeira dorsal. Eles equivalem a uma injeção de insulina, quando comparados aos humanos. A aplicação é feita por um profissional experiente, que se aproxima com um bote e utiliza uma balestra para efetuar a colocação, sem grandes riscos para o animal.
Apesar de inovador, o monitoramento via satélite é extremamente caro e traz altos riscos de não se obter os resultados desejados. Por isso, ainda é utilizado em poucos projetos e experimentos do tipo.
- Eles transmitem sinais via satélite quando o mamífero chega à superfície. No entanto, eles podem se soltar do corpo da baleia e, com isso, perde-se todo o trabalho realizado.
A pesquisadora também coordena o desenvolvimento de outro método de pesquisa não-letal: a foto-identificação.
A técnica consiste em tirar fotografias da parte de baixo da cauda de baleias jubartes. Elas funcionam como impressões digitais, já que essa parte do corpo é distinta de animal para animal.
- Poderemos tirar fotos das jubartes do oceano Antártico, comparar com as fotos de jubartes do Pacífico Sul e depois checar se são os mesmos animais para conhecer seus padrões migratórios.
Caça comercial
Uma frota baleeira partiu do porto de Shimonoseki, no Japão, rumo à Antártida, com o objetivo declarado de caçar os mamíferos com fins científicos. No entanto, os navios fugiram da embarcação do Greenpeace ao longo da última semana.
- Para nós, isso é mais uma prova de que querem esconder a caça comercial. Eles irão capturar as baleias com o pretexto da "caça científica", que nada mais é do que a caça comercial pobremente disfarçada de ciência - denuncia a pesquisadora.
Em 2005, o primeiro-ministro australiano John Howard escreveu para o premiê japonês, Junichiro Koizumi, afirmando que as técnicas de pesquisa modernas tornam a matança de baleias desnecessária. No mesmo ano, uma rede de fast food da ilha de Hokkaido incluiu no cardápio um hambúrguer com a iguaria.
Atualmente, 46 espécies de cetáceos correm risco de extinção em todo o mundo, de acordo com a União de Preservação Mundial (IUCN).
Fonte www.terra.com.br

Nenhum comentário: